Durante quinze meses, Sebastian Junger acompanhou um pelotão de infantaria do Exército dos Estados Unidos baseado no Vale do Korengal, uma remota área do leste do Afeganistão. A intenção era ao mesmo tempo simples e ambiciosa: transmitir a experiência dos que lutam em um campo de batalha, contar como se sente quem participa de uma guerra.
Acompanhado do jornalista fotográfico Tim Hetherington – morto em abril num ataque de morteiro realizado pelas tropas de Muamar Kadafi, na Líbia –, Sebastian reuniu, entre 2007 e 2008, o material que deu origem ao documentário Restrepo, e ao livro Guerra.
Mas apesar do conteúdo biográfico da obra, o texto é mais corrido do que se esperada para um livro do gênero. Sebastian recria diálogos a partir dos vídeos e de entrevistas realizadas, dando fluência ao texto. As cenas são recriadas, e não simplesmente contadas. O que nos faz sentir mais próximos dos acontecimentos.
O grande diferencial de Guerra não reside no fato de o livro falar sobre guerra, mas sim por retratar os efeitos da guerra nos soldados, os motivos que levam jovens a se voluntariar, e – principalmente – os motivos que os fazem querer voltar. Junger recorre à biologia, à psicologia e à história militar para explicar as decisões que eles tomam sob pressão, e explicar as provações e as provocações que vivenciam.
Os civis se recusam a admitir que a coisa mais traumática que existe com relação ao combate é ter que desistir dele. A guerra é tão obviamente ruim e errada que a ideia de que pode haver algo de bom nela é quase indecorosa.
Vale ressaltar que Guerra não tem por objetivo contestar a legitimidade dos confrontos no Afeganistão ou qualquer outro confronto já vivido. O principal objetivo é explorar os relacionamentos, traumas e sentimentos desses homens que lutam por “ideais” alheios; mostrar as situações de guerra, o amor e companheirismo que cada soldado tem pelo outro e o sentimento de saber poder confiar a vida à outra pessoa.
Guerras sempre aconteceram, acontecem, e não deixarão de acontecer. Talvez por isso mesmo, é difícil pararmos para pensar nos reais motivos das rixas; “ignoramos” que por trás de toda essa briga ideológica, existem homens morrendo e vivendo por isso.
É fácil passarmos o ano inteiro aqui sem jamais nos perguntar se isso precisava mesmo acontecer. E nos surpreendemos a pensar que nada poderia convencer tanta gente a trabalhar tão arduamente assim em algo que não fosse necessário – certo?
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